Quando Menos é Mais

Os budistas costumam dizer que aqueles que cospem aos quatro cantos “eu quero ser feliz” precisam fazer duas coisas, tirar o eu e tirar o quero, aí sim, terão a chance real de experimentar a felicidade.
A grande dificuldade, talvez,  é entender que felicidade não se trata da conquista de algo que está fora de nós, nem tampouco dos prazeres que experimentamos ao longo da nossa existência, não, felicidade não se trata disso. Alegrias e tristezas fazem parte da vida e, ainda assim, é possível ser feliz.
Definitivamente, felicidade não é algo para se possuir, pois exige entrega, desse modo, está mais para algo a ser experimentado, vivenciado, ou seja, enquanto formos felizes, seremos felizes.
Mas que coisa mais sem sentido, o que é que isto quer dizer, afinal? Primeiro vem dizer que devemos tirar o eu e o quero da jogada e agora isso?
Pois é, vamos exemplificar para tornar mais fácil o entendimento.
Quem é que nunca jogou um jogo de tabuleiro antes? Quando criança, tenho certeza de que era muito comum jogar com os amigos. Porém, quase toda criança tem dificuldade em lidar com os jogos, pois, para os iniciantes, todo jogo implica ganhar ou perder, simples assim.
Acontece que todo jogo tem suas regras e quando se lê o manual de um jogo qualquer, fica muito claro que independente de ganhar ou perder, as regras precisam ser seguidas, antes que o ganhador se apresente, é preciso que o desenrolar do jogo aconteça, é preciso que o aleatório se faça presente, que as circunstâncias se mostrem, que se experimente alguma ansiedade, algum desejo, alguma frustração, assim como no tabuleiro da vida.
Todo jogo tem seu fluxo e o realizar de um jogo só é possível com os participantes,  que, de bom grado, se submetem a determinadas condições e aceitam que a sorte e o azar podem estar ou não do seu lado e que mais do que ganhar ou perder, a diversão está no desenrolar do próprio jogo, no risco, na zoação, que acaba ficando para história ― quando relembramos os jogos que fazíamos na infância, não nos recordamos, exatamente, de quem ganhou ou perdeu, mas da zoação, das sacanagens que fazíamos e sofríamos dos amigos e que davam toda a graça e tornavam tão interessantes os jogos da nossa infância. Para quem sabia jogar, ganhar ou perder era o menos importante, o que importava mesmo era a bagunça.
Um jogo não depende única e exclusivamente de nós, são vários os elementos que o compõe e se sujeitar plenamente as suas regras sem expectativas é o segredo, é a graça ― o eu não é o mais importante, é apenas parte do jogo.
Ninguém entra num jogo colocando o desejo de ganhar acima de qualquer coisa, se assim for, a experiência, certamente, será terrível, pois quando perder não terá restado nenhuma satisfação ou diversão.
A isto eu chamo de felicidade, um estado, pois tal como nos jogos, somos jogadores enquanto estamos jogando, e um fluir, pois aceitamos as condições, estamos cientes das regras, sabemos de antemão que podemos ganhar ou perder, pois, como participantes, não temos controle da jogada, sorte, azar são fluidos, se deslocam a todo momento.
A felicidade sempre estará a nossa disposição se formos menos egocêntricos e deixarmos fluir, sem querer controlar tudo.
Fica a dica, deixe fluir para ser feliz, porque felicidade é aqui e agora.

 

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