Dê Nome Aos Bois

 

        A meditação é considerada o coração do budismo. E por quê? Porque é a prática que nos conduz a ver as coisas com clareza, com atenção e através da percepção que leva à sensação, ao sentimento, ao insight, temos enfim um contato com a realidade dos fenômenos.
        A meditação é o que nos auxilia no Dharma, o caminho da transformação interior e de crescimento espiritual que nos conduz à felicidade.
        E o que a felicidade tem a ver com isso?
        A felicidade só acontece quando praticamos as virtudes, quando as interiorizamos verdadeiramente e quando percebemos e experimentamos amplamente a realidade tal como ela é na verdade. Ou seja, é o desenvolvimento do espírito na busca pela verdade o caminho para a iluminação.
        E é muito importante salientar que o espírito está em nós, somos nós, logo, não tem como separar o desenvolvimento do espírito da nossa vida cotidiana. O que quer que façamos, qualquer que seja o papel que desempenhemos é uma oportunidade de seguir e praticar o Dharma.
        E como, afinal, a meditação ajuda nesse desenvolvimento?
        Ora, para se chegar a verdade dos fenômenos é preciso muita observação e muita atenção e uma das técnicas de meditação é a discriminação, isso mesmo, discriminação.
        Sei bem que essa palavra carrega um sentido negativo, mas assim como agora mesmo iremos além, procurando compreender em sentido mais amplo o que discriminar significa, o mesmo acontece na meditação, ou seja, quando o nosso objeto de foco são as emoções ou sentimentos, então identificamos e listamos, diferenciamos e discernimos cada um dos objetos de nossa atenção dando nome aos bois, como diz a expressão popular, assim, sem bancar o juiz e logo julgar se a priori algo é positivo ou negativo, o objetivo é ir a fundo na busca pela verdade da experiência. E é claro que o discernimento leva à distinção do que é positivo e do que é negativo no reto caminho.
        Raiva é sempre raiva e não nenhuma outra coisa, pois há características específicas que a distingue de todo o resto, assim como medo é medo, amor é amor, engano é engano e devemos sempre, digo sempre, dar nome aos bois, pois de outro modo é impossível que se chegue à verdade, é impossível que se possa avançar no caminho da felicidade.
        Sei que a cada dia isso se torna cada vez mais difícil, pois no nosso dia a dia parece que é crime chamar as coisas pelo nome, mas devemos ter consciência de que isso nada mais é do que a tentativa de nos iludir e de nos manter equivocados diante de toda a grandeza que é a realidade da nossa vida, da nossa existência.
        Quanto mais enxergarmos a realidade, mais próximos estaremos da verdade e quanto mais aceitarmos a verdade da vida, mais chances teremos de alcançar uma transformação real, que pode se dar tanto internamente quanto externamente.
        Só temos condições de mudar a nossa realidade na medida em que a reconhecemos e a encaramos sem medo e sem nenhuma maquiagem, na medida em que meditamos sobre cada fenômeno ou fato existente.
        Fica a dica, medite para ser feliz, porque felicidade é aqui e agora.

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